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  • © Renato Cruz Santos

CZN

João Pais Filipe + Valentina Magaletti + Leon Marks

Música

Auditório Municipal de Vila do Conde

18 Set | Sáb | 22:30
Os acasos, como o ritmo, repetem-se e não raramente seguem padrões — às vezes com o intuito claro de os quebrar. Quando, em 2017, a convergência dos dois percussionistas prodígio João Pais Filipe e Valentina Magaletti levou à criação de CZN, a repetição de acontecimentos ficou inscrita nos destinos dos músicos, tal como os eventos que resultariam nos capítulos que sucederiam “The Golden Path” (2018). A forma como estes se desenrolariam, contudo, é apenas um eco dos passos anteriores, modulado pela constante evolução dos seus intervenientes.

Commutator é uma metáfora do processo que guia os CZN (ou copper-zink-nickel, os metais que compõem as esculturas sonoras, ou instrumentos com dimensão visual, de João Pais Filipe): uma convergência de percussionistas que trilha direcções além dos caminhos óbvios através do apontar de coordenadas a evitar. Os tempos óbvios, a repetição de cadências, o fixar de um ritmo e o desígnio de os evitar são a matéria que liga Valentina Magaletti, João Pais Filipe e Leon Marks neste registo, onde o ritmo é antítese de dança, onde a possibilidade de decorar gestos se dilui nos movimentos dos percussionistas e as texturas melódicas do produtor mergulham nos timbres da parafernália singular dos três músicos.

O resultado será, inevitavelmente, a antítese da regra, sendo a norma de evitar. O aborrecimento não faz parte da música dos CZN, a circularidade só entra na equação por via de rodas dentadas e da sua relação simbólica-simbiótica, de uma química análoga à combinação de metais que marcam o som do trio. Numa sucessão de avanços seguros e hesitações clínicas sobre sons ambientais, Commutator é mais do que um tento novo para cada um dos músicos que dele fazem parte; é um documento de valor perene, esdrúxulo e com vida própria.


Percussão: João Pais Filipe | Percussão: Valentina Magaletti | Sintetizadores: Leon Marks

CZN
Os últimos anos têm sido ocupados para João Pais Filipe. Da edição em duo com Paisiel ao disco em nome próprio, das colaborações com HHY & The Macumbas ou Black Bombaim, passando pelos encontros no exterior com Burnt Friedman, GNOD, o percussionista africano Omutaba e o mestre peruano Manongo Mujica, pouco tem sido o tempo que o percussionista e construtor de gongos tem tido para parar. Daí que o desafio para esta que, dizem, se tornou uma bela história de amor, tenha vindo da editora-mãe: Lovers & Lollypops. A ideia era ver apenas um concerto de Tomaga, banda de Valentina Magaletti, mas a química, sedimentada pela noite boémia do Porto, foi imediata. E é dela que se forja “The Golden Path”, disco lançado sob a insígnia CZN. Nocturno, visceral, errático, imersivo, este “caminho dourado” por que ambos nos guiam, recoloca a música e o seu papel histórico no centro da espiritualidade humana: unindo o instinto com a disciplina, a realidade com o sonho, o finito e o eterno.
Em 2019, o duo transforma-se em trio com a entrada de Leon Marks para a gravação e Commutator, o mais recente disco do colectivo.  Numa sucessão de avanços seguros e hesitações clínicas sobre sons ambientais, Commutator é mais do que um tento novo para cada um dos músicos que dele fazem parte; é um documento de valor perene, esdrúxulo e com vida própria.

czndrums.bandcamp.com